Autofagia para a sobrevivência
Somos todos autofágicos – e isso é bom. A todo momento nossas células
se digerem e se renovam, desfazendo e reaproveitando proteínas, por
meio de um mecanismo biológico chamado autofagia. Vista antes apenas
como um processo de morte celular, essa forma de autodestruição
seletiva de componentes celulares mostra-se agora como um artifício de
sobrevivência dos organismos – só quando não há mais conserto possível é
que as células se apagam. Como aparentemente pode ser acelerada ou
retardada, a autofagia tornou-se uma estratégia nova para combater
doenças e prolongar a vida das células, cujo interior deve guardar
tanto movimento quanto os quadros do artista plástico Jackson Pollock.
De imediato, a autofagia está abrindo perspectivas de aplicações
novas para velhos medicamentos. Por exemplo, o lítio, usado para tratar
pessoas com transtorno bipolar de humor, marcado por saltos repentinos
da euforia à depressão profunda, pode ser útil para deter o mal de
Alzheimer, uma forma de degeneração dos neurônios que tende a se agravar
com o envelhecimento. A cloroquina, além de aplacar a malária, pode
ajudar a combater tumores. A rapamicina, antibiótico usado para evitar a
rejeição de órgãos transplantados, prolongou a longevidade de um grupo
de camundongos, em comparação com outro grupo, que seguiu o curso
normal do envelhecimento.